Já se passaram 33 anos. Desde que em 25 de Abril de 1974 um golpe militar, sem sangue, sem mortes, devolveu a democracia a Portugal. Seguiram-se tempos conturbados, sem dúvida. Eu não os vivi. Só surgi em 1985 - juntamente com a CEE. Mas não consigo deixar de sentir impulsos violentos quando oiço alguém dizer: "isto no tempo do salazar é que era!". Desculpa? Era o quê?! Era a censura, o analfabetismo, as sopas de cavalo cansado para as crianças, para terem força de trabalhar o campo? Era um país retrógado, fechado, miserável? Era o quê, vá, digam-me?! Não, nem pensar! E no entanto, parece que o país está com uma amnésia gigantesca! É certo que de novo vivemos tempos de crise, mas vejo com preocupação o retorno a valores de extrema-direita, em diversos sectores da sociedade. Pior do que isso, só o fenómeno de massificação, alienação, bovinização que cada vez mais e mais vejo afectar a minha geração!! Somos mais belos, saudáveis, abertos ao mundo, receptivos, com todas as condições para ter uma vida boa, tudo ao alcance da nossa mão... E no entanto, onde está a consciência desta geração sobre-informada? Somos nós os verdadeiros Filhos de Abril - aqueles que viveram com a herança da revolução! Os que cresceram em plena liberdade e democracia! E para quê? Para não lhe darmos valor! Para não exercer os nossos deveres de cidadãos conscientes! Para vivermos como autómatos, passando pela vida sem lhe deitar um segundo olhar sequer! Não pode ser este o país da Revolução de Abril! Se querem liberdade, democracia, têm de lutar por elas, ou pelo menos mantê-las! 60% de abstenção num referendo é ultrajante!!!!! Não sou comunista, por muito que tenha ouvido isso nos últimos tempos. Não tenho filiação partidária, prefiro ser dona dos meus valores e convicções - e prefiro ser insultada e tê-las, a deixar-me ficar em águas mornas! É preciso acção, reacção. É preciso cultura, convicção, valores. É preciso gente acordada! Então acorda, geração minha! O 25 de Abril não é só mais um feriado, um exercício de nostalgia passada! Não pode! É uma chamada de consciência - deve fazer-nos pensar, voltar a ter vontade de trabalhar por um país melhor! Em frente, mas sem deixar de olhar para trás! E para coçar as consciências, nada melhor que a voz do grande José Afonso!
Fiquem bem!
Vera