25 de setembro de 2007

«Freegan, os recolectores dos tempos modernos»

A Pública deste domingo (23/09) trouxe um artigo que me chamou muito a atenção (o facto de eu só escrever sobre ele terça feira à noite diz bastante da minha preguiça inata). Trata então de uma nova subcultura urbana que cresce em Nova Iorque, os Freegan, palavra que surge da contracção de Vegan com free. Em sumário, os freegan tentam viver dos desperdícios da sociedade moderna - reduzindo os seus hábitos de consumo ao mínimo. Pescam nos caixotes do lixo os restos de comida aproveitáveis que os outros não quiseram - principalmente naqueles das superfíceis comerciais, ou dos restaurantes. Para informações detalhadas, visitem o link que está ali acima. Começam inclusivé a ser criados sites de receitas freegan, entre muitos que preconizam este estilo de vida. O artigo, original do Los Angeles Times, foca-se no caso de Madeline Nelson, uma ex-directora de comunicação de uma cadeia de livrarias, que ganhava um salário de centenas de milhares de dólares por ano, e que se tornou freegan em 2005. Reduziu os seus gastos anuais de 72.000 para 18.000 euros, e não compra roupa há três anos, mas continua a comprar papel higiénico e comida para os gatos. O artigo termina informando-nos que «Nelson adorava passear pelos grandes armazéns e comprar livros e sapatos. Agora experimenta a mesma satisfação ao encontrar 20 frangos assados temperados com alecrim num contentor da Gourmet garage ou enquanto conversa com amigos durante um almoço feito com lixo. E nunca foi tão feliz.».
Devo confessar que o conceito me causou alguma repulsa no primeiro instante, pois imediatamente me vieram à memória (visual e olfativa) os contentores fedentes que se encontram pelas nossas ruas. Ao continuar a ler, os meus receios acalmaram-se, e até me surgiu uma certa simpatia pela causa. Tem lógica, de facto. Ironicamente (ou talvez não) é algo só possível nas grandes metrópoles, tais como Nova Iorque. Não estou a ver um Freegan a conseguir sobreviver comodamente sequer em Lisboa, quanto mais em qualquer das outras cidades do nosso país. Bem, um talvez, mas uma comunidade? Não me parece possível, mas e daí talvez eu não tenha uma noção muito boa da qualidade e quantidade de lixo da nossa capital. Em geral não tenho qualquer problema com roupa usada (sou fã acérrima das lojas de roupa em segunda mão e das feiras, e quem me conhece sabe isso), ou com recuperar objectos do lixo (o candeeiro do meu quarto tem essa origem, por exemplo), e adoro criar algo novo com velhos materiais. Continuo no entanto, uma irremediável consumista. Não digo que não pudesse prescindir destes pequenos luxos (música, livros, sapatos e acessórios, principalmente), mas acho que se pudesse escolher, não o faria. E depois, tenho uma relação de amor supremo com a comida e com a culinária (dêem-me uma cozinha bem equipada e eu sou uma mulher feliz). Alimentos frescos, plenos de vitalidade e sabor - fonte de prazer absoluto... A ideia, não deixa no entanto de me cativar. Nunca serei Freegan em Portugal. Mas não digo que não o seria se vivesse em Nova Iorque por exemplo. E visto que ainda não inventaram uma máquina do tempo, continuamos a não saber o que o futuro nos reserva, não é verdade? ;)

Fiquem bem!