10 de outubro de 2007

O sublime


William Blake, Death on a Pale Horse, c.1800, Fitzwilliam Museum, Cambridge


"A morte é a única certeza da vida". Cliché, claro. Mais um. Entre tantos... E no entanto, todos sabemos que é verdade. A diferença reside no modo como lidamos com esta certeza. Não acredito que haja qualquer coisa mais para além do fim da nossa vida orgânica... Acho que morremos e pronto. Acaba-se tudo. E que esta é a única vida que temos. Preciosa, portanto. E muito frágil. Há algo de aflitivo na morte súbita, aquela que chega assim de repente, sem aviso, a maior parte das vezes por uma razão estúpida. Porque tropeçámos e fomos parar à linha do comboio. Porque um condutor apressado e distraído não nos viu na passadeira. Porque caiu um piano do terceiro andar. O que me aflige nisto são aquelas pequenas coisas diárias que ficam súbitamente interrompidas, sem razão. Aquele jantar com os amigos porque tanto ansiávamos e que tinha tantas vezes sido adiado por quase nada. O fato que fica por levantar na lavandaria. Os mails que ficam por ler. E acima de tudo, a dor daqueles que de um segundo para o outro, ficam órfãos de coração... Como se lida com algo assim? É impossível não seguir em frente. Não temos escolha nesta matéria. Nenhuma mesmo. A não ser que nos suicidemos, somos empurrados para a frente por um mundo que não se compadece da dor. Afinal é só mais uma morte. Acontece a toda a hora, em todo o lado. Há coisas para fazer, um dia-a-dia que precisa de nós para manter a sua rotineira existência. Não tenho sinceramente medo de morrer. Tenho medo da dor física. Mas não da morte em si, visto que segundo o meu ponto de vista, nem me irei aperceber dela. Mas tenho receio de não viver. De deixar de um momento para o outro um jantar por comparecer. Um exame por fazer. Ou um blog vazio... No entanto, isso não me provoca medo de viver, pelo contrário. A cada segundo tenho medo do fim da vida, e por isso a cada segundo a amo mais. Cada pequeno momento de perfeição é uma dádiva a aproveitar. Acho que a única coisa que posso fazer é isto. E é dizer àqueles que amo isso mesmo. Que os amo. Tantas vezes quantas as necessárias. E as desnecessárias também. Porque no fim, acho é isso afinal que me horroriza mais. Deixar a vida sem que aqueles que me rodeiam saibam o quanto são queridos por mim. Porque tudo o resto é supérfulo. Necessário, mas supérfulo. Incoerente? Pensem lá um pouco. Talvez não o seja assim tanto... Porque estarei a falar nisto? Porque sim, porque o penso frequentemente, e porque posso não ter mais oportunidade de o fazer. Quem sabe?





No fim de contas, a morte é a demonstração última do SUBLIME...