27 de julho de 2007

Respiro (2002)

Depois de ver "Da Rússia com amor", e "Anatomia de Grey" (pouco sono), esperava-me uma surpresa que me fez aguentar até às 4 da matina, embora com muito custo.
Para provar que ainda se faz bom cinema italiano, fora da indústria que se rendeu (e muito, acreditem) ao modelo industrial americano dos Blockbusters, surge um filme de imagens grandiosas. Uma história de busca de liberdade no meio mais fechado que pode haver, aquele de uma pequena vila pescatória a sul da Sicília. Grazia é uma mulher moderna, que segue os seus instintos e choca com o conservadorismo da comunidade. Ela nada nua, expressa livremente a sua alegria e a sua tristeza, ama os seus cães como os seus filhos, e pior, destila uma sensualidade descomprometida e natural, que a torna perigosa. Maravilhosa a sua relação com os filhos, dois rapazes e uma rapariga, todos trabalhadores, eles na faina e elas na fábrica de conserva. As crianças adquirem desde tenras um sentido de responsabilidade e de conformidade com as regras sociais como só as crianças o sabem fazer. Hilariante a cena em que o mais novo ameaça o namorado continental da irmã, tentando arrastá-la para casa, enquanto desfia um chorrilho de imprecações e ameaças em dialecto, que o outro obviamente não percebe... É a típica mentalidade patriarcal, em que um rapazinho de 10 anos se sente no direito, no dever, de mandar a sua irmã de 17 (?) anos para casa, de se intrometer no seu namoro, como se fosse o varão da família.

A crise final é despoletada quando o marido de Grazia mata um dos seus cães, por ciúme. Isto leva-a, por uma mistura de dor e humilhação, a soltar as centenas que cães que estavm confinados no antigo forte, prontos para abate. Os cães invadem a vila, e são abatidos a tiro pela população, que agora considera Grazia uma verdadeira ameaça para todos. Decidem mandá-la para uma clínica em Milão, para ser "tratada". Perante isto, e com a cumplicidade do filho do meio, ela foge e esconde-se numa gruta, até que ao verem o vestido que o rapazinho tinha deixado na praia, todos a julgam morta.
Grazia Resurge do mar, perante a aldeia reúnida na praia para uma festa religiosa, em mais uma cena de beleza sublime. Em termos de fotografia, o filme é de cortar a respiração, com as cores do mediterrâneo em pleno delírio. A nossa costa tem também este tipo de beleza e cores, como se pode ver ali em baixo... =)

Pelo que vi, com boas críticas, Emanuele Crialese cria aqui uma grande segunda obra, que recupera alguma da aura do Neorealismo, mas com um acento contemporâneo.
Recomendo vivamente!