30 de julho de 2006

Homem


O Homem
Pensava, pensava
E só pensava
Nada dizia
De tanto pensar
Calado estava e nada dizia
Pensava na vida
Pensava, pensava
De tanto pensar
Às vezes falava mas nada dizia
O Homem
Que só pensava
Um dia pensou enquanto falava
Falou, falou mas pouco dizia
Voltou a pensar
Porque ninguém o ouvia
E num momento
Enquanto pensava
Pensava e sorria
Para quê falar, se ninguém o ouvia
O Homem
Que só pensava
Às vezes dormia
Às vezes sonhava
E quando acordava
Pensava que ainda dormia
E o mundo mudava
O Homem não via
Troavam canhões
A fome crescia
Crianças sofrendo
E o Homem pensava, nada fazendo
O Homem sofria mas nada fazia
Pensava, pensava
E enquanto pensava
O Homem morria

José Raposo, Afectos e Cumplicidades, Ed. autor, Setúbal 2006

5 comentários:

Anónimo disse...

rocha de Sousa. Ainal encontrei o seu blog. Exclente demonstração de
senmsibilidade e empenho nos temas.
No desenhamento faço mais uma «gazeta» com os temores do mundo actual e a revolta que lhe corresponde- Até breve

Anónimo disse...

foi realmente um privilégio conhecer este poeta. e pensar que ainda vamos ter a aoprtunidade de privar com ele mais uma vez. a sua simplicaidade, a sua maneira de ser cativante, delicada e sensível, a mestria com q usa as palavras. altamente recomendável este livro!

... disse...

Olho para essa foto e apercebo-me que são sempre 2 pensadores em seu redor.

... disse...

Vá lá, vou matar a curiosidade.
Há um desenho muito engraçado em que estão duas figuras destas com a legenda - 3 pensadores.
Deduzo que já saibas quem é o terceiro pensador, não?

... disse...

António Sala, desculpa essa é de morte...
Só isso já é uma anedota.

E não, o outro pensador és tu.
Ficaste ou não ficaste a pensar?