6 de agosto de 2007

"Olhe, desculpe, o senhor é carteirista?"


Já sei que é uma notícia velha, mas não consigo deixar de pensar nisto... Há alguns dias atrás a sic fez uma reportagem no eléctrico, sobre os carteiristas - até aqui nada de novo. O que me surpreendeu foi o facto de eles terem de facto encontrado um "carteirista", que se dispôs a dar uma entrevista, sem que se visse a cara, debitando pérolas do género "isto não é uma profissão para qualquer um, é preciso ter muito sangue frio" ou "vamos sempre aos estrangeiros, os com melhor aspecto", e que era necessário um talento raro para avaliar a «sensibilidade» da pessoa a roubar. Seria pois a conjugação entre o sangue frio do ladrão e a «sensibilidade» da vítima que daria ou não origem a um furto bem sucedido. É claro que os pobres por vezes "tinham azar", visto que a vítima não tinha nada... Ora, saltam aqui à vista diversas coisas extremamente perturbantes. Moralmente baixas. Vocês sabem. Podem avaliá-las por vocês, não as vou discutir. O que me deixa REALMENTE confusa aqui é como carga de àgua é que eles conseguiram arranjar um carteirista?!!!!! Disposto a dar entrevista?!!!!!!!!!!!! A sério que isto sempre me deixou confusa. Ele é um criminoso. Confesso. Gabarolas ainda por cima. Eles não se tornam cúmplices dos crimes dele por não o denunciarem? Sim, é um crime difícil de provar fora do flagrante delito. Mas o homem confessou para a câmara!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Bah! Estas coisas ultrapassam-me... Claro que o senhor podia ser só um actor contratado pa dar mais piada à cena. É mais tranquilizante pensar que sim. Mas por outro lado, não consigo deixar de imaginar os repórteres em àrduo trabalho de busca, percorrendo a cidade de eléctrico vezes sem conta, na esperança de encontrar a tão desejada resposta positiva à pergunta inúmeras vezes formulada: "Olhe, desculpe, o senhor é carteirista?"

6 comentários:

naturalissima disse...

Estou de boca aberta!!! Não vi tal reportagem na SIC, mas acredito no que dizes aqui.
Francamente, nem sei o que te diga!!!
Parece uam brincadeira dos "apanhados"... Estão a gozar connosco?!?
Somos um povo, um país de parvos?
Continuo de queixos caídos...
Chocante...

Amiga, uma boa semana ;-)
Daniela

Vera Isabel disse...

eu vi isso. lata impressionante a daquele gajo! apropria-se dos bens alheios e ainda dá conselhos como evitarmos o saque da gandulagem!

Rocha de Sousa disse...

Cara Betty,
A sua reportagem da reportagem é o espelho claro do que são os meios de comunicação social, em particu- lar os audio-visuais.Uma civiliza- ção tecnologicamente tão avançada como a nossa devia ter cada vez mais espaços interactivos de rela-
ção e cultura, regendo-se a impren-
sa e outros meios por uma séria deontologia de acção, divulgadora,
didáctica, informativa. O caso que
narra é, em certa medida, o sintoma
da peste geral: surpreender, apa-
nhar espectadores, aliená-los numa
espécie de prostituição pública.
Os contactos para arranjar um car-
teirista são fáceis, tanto mais que ele não dá a cara, mesmo que esteja em campo. Não denunciar um
melro desses é aquilo a que os jor-
nalistas chamam «direito de não revelar a fonte» - e isso, ainda por cima, em nomde da liberdade de comunicação.Imagine que eles encontravam um extraterrestre pron-
to a arrasar uma cidade inteira.
Claro que tudo isto são manonbras cúmplices e a liberdade de impren-
sa, muitas vezes, mero jogo mercan-
tilista.
Bresson, o cineasta, realizou um dos seus filmes mais famosos jus-
tamente com esse tema. Chamava-se
«O Carteirista». Com aquela linguagem «branca», seca, exacta,
capaz de tornar aprazível o próprio
horror, no Carteirista ele mostra como se rouba uma carteira numa simples fila de espera. E outros casos. Denuncia essa destreza, sem
dúvida, mas não deixa de tocar, pelo paradoxo da estética, a indulgência do espectador, o que é
uma espécie de cumplicidade cínica.
Os programas «Apanhados», em que
por vezes um cidadão comum é sujeito a incómodos e humilhações
incríveis - será isso liberdade de
expressão ou negócio imoral? - deviam ser proibidos. E é pena que
a tolerância alvar do espectador, ou do apanhado, não se exprima com
um processo judicial por danos morais ou outros.
Gostei muito de estar consigo hoje.
Veja o que acha (a propósito do caso que apontou) da minha nota in-
titulada «Um dolorosa erro de casting».
Estes casos envolvem problemas muito mais sérios do que habitualmente pensamos.
Um grande abraço.
Rocha de Sousa

CP disse...

Resumindo:
O homem carteirista é tuga e obviamente o bom Tuga quer-se assim. Para o encontrar aposto ctgo que bastou sacar uma câmara de filmar e um micro e dizer "Procuro carteirista para aparecer mais ou menos na Tv".

Cataclismo Cerebral disse...

Tb vi essa reportagem e fiquei chocado. A actual cumplicidade entre os meios de comunicação social e tais criminosos deixa-me perplexo.

passarola disse...

vocês ficam surpreendidos dele se mostrar ao câmara men... como habitual consumidora de eléctricos, tenho a dizer-vos que sei perfeitamente quem são os carteiristas, vejo-os todos os dias... sei eu, sabem os outros viajantes, sabem os motoristas, sabe a polícia... enfim... metade dos habitantes da parte antiga de lisboa!!! A sensibilidade e o sangue frio... resume-se a apanhar um turista otário o suficiente para se deixar roubar!! :S